Como a alta do Dólar afeta o agronegócio brasileiro?

O câmbio é um fator determinante para o agronegócio brasileiro, já que muitos insumos utilizados na produção rural são cotados em dólar. Além disso, a valorização ou desvalorização da moeda norte-americana impacta diretamente os preços de exportação e importação, afetando tanto os produtores quanto os consumidores finais.

Segundo dados do Banco Central do Brasil de 11 de abril de 2025, o dólar está cotado em R$5,87 (cinco reais e oitenta e sete centavos). Para o economista Silvio Campos Neto (BBC, 2024), uma queda significativa parece improvável a curto prazo, e ajustes de preços e custos serão inevitáveis, impactando setores de forma diferente (de acordo com suas receitas e despesas em dólar).

Conforme estudos do Cepea (2019), para o produtor agrícola, uma alta do dólar atua via dois canais: elevando os custos por causa do aumento dos preços dos insumos importados e incrementando a receita das exportações convertida em reais.

Grande parte dos insumos utilizados na produção agrícola brasileira são importados ou têm preços atrelados ao dólar, como fertilizantes, defensivos agrícolas e maquinários. De acordo com Brito (2021), cerca de 70% dos insumos agropecuários são importados, impactando diretamente as agroindústrias bem como toda a cadeia de produção chegando até o consumidor.

Desse modo, quando a moeda norte-americana se valoriza, o custo desses insumos sobre, pressionando as margens de lucro do produtor, em especial dos pequenos e médios produtores, os quais possuem menor poder de negociação com fornecedores. “O cenário pode ser desafiador para os produtores que dependem do mercado interno, já que a alta do dólar pode pressionar os preços dos insumos e reduzir as margens de lucro.” (MIYAUCHI, 2024).

Por outro lado, um dólar valorizado torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, pois os compradores estrangeiros pagam menos em suas moedas locais para adquirir commodities como soja, café e carne. Desse modo, o aumento das exportações e, consequentemente, a maior entrada de dólares no país também pode ajudar a equilibrar a balança comercial. De acordo com a Revista Exame (2024):

No setor de proteínas, voltado para exportação, o impacto é positivo devido ao maior escoamento internacional. Já setores que dependem de insumos importados, como fertilizantes, enfrentam maiores dificuldades. O efeito final varia conforme a capacidade de escoar a produção.”

Dentre os efeitos práticos, pode-se observar o crescimento das exportações, impulsionando setores como grãos e proteína animal, além de possível redução da oferta de produtos no mercado interno, elevando a inflação dos alimentos. Com a maior competitividade das exportações, parte da produção destinada ao mercado doméstico pode ser direcionada para o mercado exterior, reduzindo a oferta interna. Essa diminuição na oferta pode resultar em aumento dos preços dos alimentos para o consumidor brasileiro.

Ademais, o encarecimento dos insumos importados eleva os custos de produção, que podem ser repassados aos preços finais dos produtos agrícolas. Esse cenário contribui para a inflação dos alimentos, impactando o poder de compra da população.

Para os produtores que exportam, a alta do dólar pode ser benéfica, pois as receitas em moeda estrangeira, quando convertidas para reais, resultam em maiores ganhos. Conforme o Cepea (2019), em via de regra, esse incremento nas receitas supera os aumentos nos custos de produção decorrentes da valorização do dólar.

Figura 1: Resultados de lucro líquido para empresas do agronegócio durante a pandemia da Covid-19.
Fonte: Brito, 2021.

A figura 1 acima busca evidenciar os impactos da pandemia no lucro líquido das empresas do setor, em um cenário impulsionado pela demanda mundial por alimentos e alta valorização do dólar. Diferentemente dos demais setores da economia, em geral, as empresas ligadas ao agronegócio obtiveram ganhos significativos em suas receitas durante o período.

Dessa forma, para a ampla maioria dos grandes exportadores rurais, a alta do dólar costuma ser vantajosa, pois o setor exporta bastante e importa pouco. Além disso, os produtores costumam manter estoques de insumos e podem optar por não adquirir estes produtos durante a alta da moeda norte-americana. “O impacto maior nos custos só será sentido pelos exportadores de commodities, caso a alta do dólar seja por um tempo prolongado.” (BBC, 2024).

Em suma, a valorização do dólar apresenta efeitos ambíguos para o agronegócio brasileiro. Enquanto favorece as exportações e aumenta as receitas dos produtores que vendem para o exterior, também eleva os custos de produção devido ao encarecimento dos insumos importados. Além disso, pode impactar os preços dos alimentos no mercado interno, afetando diretamente o consumidor brasileiro. Portanto, é crucial que os produtores adotem estratégias de gestão financeira e de risco para mitigar os efeitos adversos das oscilações cambiais em suas operações.